quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dúvida e Certeza

Por Daniel Van Flymen

Como seria estar lá, lá dentro?
cavidade alagada
que nada exalta os nervos
permanecem calados

Risos e rijos encontra no dele
exuberância querida
que obriga rompimento dos lábios
bendita comida

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Rainha da maldade

Saudade
em que os abutres lá dentro voam
desespero de minha dor
ameaçadora em cunho de delírio
Falta que se faz
na escuridão de olhos abertos
atentos ao vocabulário dos castigos
ameaçador em calão grosseiro
Logística
de pontes desmanchadas pelo tempo
frio e quente nas suas obrigações
que roubam de nós o oculto tempo
Saudade

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Retorno

Eu tô rindo de quê?
da mulher predreira na TV
do meu povo cheio de querer
o melhor pros filhos comer

Eu tô rindo pra quem?
pro samba que cria um jovem
e leva na noite bom ânimo
aos corações que carecem de paz

Eu tô chorando por quê?
porque o porto perdeu seu príncipe
novos e velhos mudaram de lá
baixou a cidade, como não chorar?

Eu tô chorando por onde?
a água matou muita sede na pátria
matou muita gente, que horror!
um tanto de mãe, um fardo de dor

Por onde choro rindo de quê?
Por que eu rio chorando de quem?

domingo, 17 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Papelão

papéis de cartão
papéis de almaço
papel passado

papéis de jornal
papéis quadriculados
papel higiênico

papéis impressos
papéis rabiscados
papel avulso

papéis reciclados
papéis recortados
papel de puta

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Se eu fosse um objeto

                                          Para os corações que insisto.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Vontade

O homem da lotação o desejou como homem
e como homem identificou-se como membro
comendo com olhos como se fosse boca
o que um homem como ele come como homem

domingo, 10 de janeiro de 2010

Cigarretes

Fui derrotado pelo vício inferno que traga minha vida aos poucos.
Ao menos venci o tédio maldito que nem o pouco me deixa ser.

sábado, 9 de janeiro de 2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Acampamento urbano

O arroz até cai em companhia. O menino, despenteado, se ajeita para engolir a marmita. A mãe está nos devaneios do voraz consumo que se propõe - como quem descobre um parque de diversões (ou uma fábrica de chocolate). Ela, prestativa aos anseios, chegou cedo. Fez dali, sua casa. Mais a frente, os parceiros de mão, de mãe, de papo, de trapo, de fato. Cansados, aguardam a oportunidade - que geralmente vem nesta época de estoque velho - sentados. A que não tem marido passa a pensar no ferro de passar à R$ 19,90. A mãe velha trocará a TV velha pela TV gigante (não tenho noções de polegadas). A senhora de braços à tanque não via hora de lavar na máquina de lavar. E tem aqueles que procuram um novo som de batidão, de penteadeira, de fogão, de lava-louças, de panela de pressão. O garotão, na fila, só quer acesso ao unviverso virtual. Seu irmãozinho, um brinquedinho anormal. Mas tem o pai, não desses todos, mas de uns que nem ele sabe. Tá ali, querendo apenas aproveitar o gosto de gastar. Depois desses tantos, e no meio das prestações, todo mundo dá um jeito de engolir a marmita.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Vício eterno de uma mente com lembranças

Não aguentava mais ver aquilo no escuro. Ou melhor, não ver. Cautelosamente conquistei a luz. Pude assistir o ato, deslumbrando cada movimento. Ele, sempre agitado naquela hora da noite, estava com os nervos rígidos. Vermelho (ou roxo), em pé e pronto para lançar sobre ela a qualquer momento. Ela, desencaminhada em movimentos lânguidos e às vezes firme, se batia contra e a favor dele. Prazer imenso, onde consegui intervir apenas no final e, como já sabia, entrei numa melemolência singular (apesar de que sempre é a mesma coisa). Uma vergonha? Não, não para os imorais e não arrependidos como eu. Além do mais, em todas as casas aquilo acontece . Todas. Fui dormir imundo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Se eu fosse um objeto


Seleção da solidão. Ao menos as cores.

Então a vida me permite dois irmãos

Num desses dias
talvez especial
talvez desigual
tudo parece
tudo aparece

Você e mais um
comigo mais um
faz e se mexe
meu coração remexe
e tenho outro

pra gostar de rir
pra gosto de amar
e pedir licença
na maior insistência
pra você ficar

e se você não quer
eu já não tenho
nem um nem outro
nem de mim tampouco
e pra mim é pouco

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Figuras trocadas

Vou num tom, mas volto sem a menor harmonia. Se por aí estou, até sou, mas para o lado de cá, não existo. Ao redor deles, sorrio e rogo às horas para lentos passos, pois quero ficar. Que me perdoe os meus, mas não há felicidade por aqui e nem ali, apenas lá. Sinto-me perdido como as gotas de chuva que em primeira viagem desconhecem a macia terra e, junta dela, minhas lágrimas. Devo ser um verme, desses que se apega e louva os seres humanos e, deles, o meu amor é maior. Por quê? Não entendo, apenas amo sem seleção de nomenclatura, apenas amo. Não existe pai, não houve mãe. Não sou da minha, não que eu não queira. Acontece. Aconteceu desde sempre. Agora é tão intenso, talvez pela semelhança incoerente, talvez pela inocência voraz e faminta por experiência vida. Até pode ser pelos olhos que não temem o encontro. Não sei. Não é esclarecedor o meu ato de apropriação de afetos e gestos e isso tortura. Cavalgo na fera cega, sem mapa, sem exatidão. Mas conforto as luzes internas excluindo os catálagos, as placas, as relações. No caminho cinza (ou preto e branco) encontro a árvore estarrecida e em lamentos. Com doses de confusão, choro. Derramo por saudade no colo de minha mãe e na seguência dos fatos, odeio. Por quê? Por que amo mais os que não são meus? Por quê?

domingo, 3 de janeiro de 2010

A tal da alegria

Alegria,
que se faz de miséria
à míngua! Seca e pobre


Alegria,
que desconheço por inteira
tímida! Fraca e perdida


Sinto pena da alegria
que rasteja com o auxílio de um guia
tão mais deserto que a tal alegria


Alegria,
perdoe-me por revelar
mas será sempre frio o teu jantar


Alegria,
a felicidade não chegará na tua cama
calada! morta e incapaz

sábado, 2 de janeiro de 2010